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Ricardo Itikawa    |   28/04/2025   |   Lean na Indústria   |  

Kaizen na Indústria 4.0: muito mais do que “pequenos ajustes”

Ele precisa se configurar como uma cultura organizacional enraizada na busca incessante pela eliminação de desperdícios e pela maximização da eficiência

Embora não seja mais uma novidade, o conceito e prática do kaizen tem se tornado um diferencial estratégico cada vez mais importante. Isso porque, como sabemos, a indústria mundial tem passado por transformações tecnológicas, econômicas e sociais recentes que prometem não deixar “pedra sobre pedra”. Por isso, quanto mais ágil e eficiente for uma planta industrial, melhor será para todos. Em resumo, é isso que faz um bom kaizen: muda a empresa para muito melhor, fortalecendo produtividade, qualidade, economia, sustentabilidade dos negócios, ao mesmo tempo em que desenvolve as pessoas.

Para isso, no contexto da indústria 4.0, o kaizen não pode se limitar a iniciativas isoladas de otimização de processos. Ele precisa se configurar como uma cultura organizacional enraizada na busca incessante pela eliminação de desperdícios e pela maximização da eficiência em todos os níveis.

Nesse contexto, nada melhor do planejar e roteirizar os kaizens para que eles possam se tornar algo integrantes ao dia a dia da organização, permeando o dia a dia de uma indústria. Apesar da diversidade de abordagens, um kaizen eficaz geralmente segue um conjunto de seis etapas bem definidas:

  1. A escolha do “alvo”: aqui, é preciso identificar problemas relevantes, com base em dados operacionais, impactos financeiros e alinhamentos estratégicos. Isso é crucial para garantir o engajamento de todos e o sucesso do kaizen.
  2. Preparação: envolve a formação da equipe, o Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV), visitas ao gemba para coleta de dados e identificação das causas raízes através de ferramentas como os 5 Porquês e o Diagrama de Ishikawa. A definição de metas SMART e o desenho do estado futuro desejado também são etapas essenciais.
  3. Execução: a implementação das melhorias testadas, com o envolvimento ativo da equipe operacional e forte mentoria da liderança para superar os inevitáveis obstáculos.
  4. Monitoramento e Sustentação: a garantia de que as mudanças sejam internalizadas através da revisão de padrões operacionais, treinamentos contínuos, gestão visual e auditorias, com a validação dos ganhos pelas áreas impactadas.
  5. Contabilização de Resultados: a mensuração do impacto das melhorias através de KPIs relevantes e a realização de ajustes finais para maximizar os ganhos.
  6. Hansei (Reflexão): a reunião de encerramento para resumir a jornada, documentar as lições aprendidas, planejar a replicação, reconhecer os envolvidos e definir os próximos passos, reforçando a natureza contínua da melhoria.

Um erro comum que enfraquece o potencial é a chamada "síndrome do kaizen". É aquele tipo de empresa que investe em iniciativas pontuais de melhorias que não se traduzem em mudanças estruturais significativas. Isso ocorre quando o kaizen é tratado como um evento isolado, desconectado de uma estratégia lean abrangente. O resultado são "ilhas de excelência" que não impactam o resultado final da organização.


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Para evitar essa armadilha, as empresas precisam integrar o kaizen a uma estratégia lean de longo prazo, definindo metas claras e sustentáveis que guiem as iniciativas de melhoria. Ou seja, por meio de um sistema de gestão robusto que incorpore o kaizen como parte de um modelo de excelência operacional. Assim, garantir a participação ativa das lideranças, que precisam demonstrar compromisso com a cultura de melhoria contínua. Além disso, evoluir o kaizen para o fluxo completo de valor, se possível estendendo a cultura de melhoria para além das fronteiras da empresa, envolvendo fornecedores, terceiros e até clientes.

A Indústria 4.0 oferece um terreno fértil para potencializar o kaizen. As tecnologias de coleta e análise de dados em tempo real permitem que as empresas direcionem seus esforços de melhoria de forma mais assertiva, transformando dados brutos em informação valiosa e, consequentemente, em conhecimento para a tomada de decisões estratégicas.

O kaizen, em suas diversas formas e aplicações, é uma ferramenta poderosa para impulsionar a eficiência e a competitividade na indústria 4.0. No entanto, seu verdadeiro potencial só se concretiza quando integrado a uma visão estratégica de longo prazo e a uma cultura organizacional que abraça a melhoria contínua como um valor fundamental. Mais do que pequenos ajustes, o kaizen é um catalisador para uma verdadeira transformação rumo à excelência operacional.

Ricardo Itikawa
O autor do artigo, Ricardo Itikawa, é Head para Manufatura do Lean Institute Brasil (LIB). Imagem: Divulgação.

*Imagem de capa: Depositphotos.com

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Ricardo Itikawa

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