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Com potencial de reduzir 57% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) das indústrias no Brasil, os projetos de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS, na sigla inglês) são alternativas para os setores mais intensivos que, mesmo adotando todas as estratégias de descarbonização possíveis, têm mais dificuldade de serem livres de carbono nos seus processos produtivos. Por exemplo, as indústrias de cimento e de siderurgia.
O dado é da organização CCS Brasil e integra estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O levantamento “Captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS): experiências internacionais e o potencial brasileiro” analisa os programas de Estados Unidos, Canadá, União Europeia, Noruega, Reino Unido, Alemanha, Dinamarca e Indonésia, destacando como as principais lições, avanços e desafios aprendidos em outros países podem fornecer subsídios para o desenvolvimento de CCUS no Brasil.
Atualmente, existem cerca de 45 instalações comerciais em operação no mundo, com uma capacidade total de captura de mais de 50 milhões de toneladas de CO2 anualmente. Entre 2022 e 2023, dez grandes instalações começaram a operar, incluindo novos projetos na China e nos Estados Unidos. No entanto, mesmo com esse crescimento recente, a capacidade atual de captura continua abaixo do necessário.
No Brasil, segundo a CCS Brasil, o potencial de captura pode atingir cerca de 190 milhões de toneladas de CO2 por ano, apenas considerando o atual nível de produção industrial e geração de energia. Para não ficar atrás na corrida mundial pelo domínio da tecnologia, a indústria brasileira tem investidos mais de R$ 100 milhões em projetos de pesquisa espalhados pelo país.
A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que, para atender ao cenário Net Zero, ou seja, de zerar as emissões líquidas de carbono até 2030 para evitar o ponto de “não-retorno” – quando a quantidade de carbono levada à atmosfera for igual à quantidade que é removida – a capacidade global de CCUS deve atingir aproximadamente 1,2 bilhão de toneladas de CO2 por ano.
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No momento, a capacidade dos projetos anunciados em desenvolvimento para 2030 representa apenas 40% dessa meta, o que, para a CNI, evidencia a necessidade de um aumento expressivo na velocidade de implementação e investimentos em novas tecnologias de captura e armazenamento. Até agora, cerca de 20% das capacidades anunciadas já estão em operação ou com decisão final de investimento (FID), indicando que muitos projetos permanecem em estágios iniciais.
“As experiências internacionais mostram que a implementação bem-sucedida de projetos de CCUS foi possível em países em que indústria e governo trabalharam de maneira coordenada, criando um cenário de incentivos e previsibilidade regulatória que estimulou o investimento tecnológico. Ainda que em estágio embrionário no Brasil, temos potencial técnico e institucional para integrar essas tecnologias nas nossas cadeias produtivas”, afirma o superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Davi Bomtempo.
As principais rotas tecnológicas de captura de carbono incluem:
As tecnologias comerciais mais estabelecidas, como a captura pós-combustão, são implementadas desde 1930 por diversas indústrias, embora ainda enfrentem desafios de custo e eficiência energética quando aplicadas em larga escala. Por isso, os países têm investido em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) para aprimorar essas rotas, aumentar as taxas de captura e reduzir a demanda energética do processo.
Após a captura, o CO2 é comprimido, transportado e depositado em locais seguros de armazenamento, em formações geológicas subterrâneas, como de petróleo e gás natural já exauridos e reservatórios salinos. Se essa for a etapa final, a sigla vira CCS (captura e armazenamento em carbono, em inglês).
Os principais modais de transporte de CO2 incluem dutos, navios e caminhões, sendo a escolha determinada por fatores como a distância a ser percorrida, o volume de CO₂ transportado, as características geográficas da região e a infraestrutura disponível.
Nos Estados Unidos, há mais de 8 mil quilômetros de dutos em operação, movimentando aproximadamente 70 milhões de toneladas por ano (Mtpa) de CO2. Esse modal apresenta um histórico seguro desde a década de 1970 e representava 85% de toda a infraestrutura global de dutos de CO2 em 2019.
Na indústria brasileira, a aplicação de CCUS pode ser uma ferramenta para atender aos compromissos ambientais do país e assegurar a competitividade global com a crescente pressão por soluções e produtos industrializados de baixo carbono.
A geologia brasileira oferece condições vantajosas para o desenvolvimento de CCUS em larga escala. O país conta com uma base técnica consolidada na indústria de óleo e gás, e a disponibilidade de formações geológicas adequadas, como reservatórios salinos e campos de petróleo exauridos, que colocam o Brasil em uma posição de destaque global para a adoção de projetos de captura e armazenamento de carbono.
Recentemente, o Brasil aprovou um marco regulatório para CCUS, a Lei do Combustível do Futuro, que representou um avanço importante na agenda. Outro incentivo relevante é a lei que estabelece o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten). Este programa inclui CCUS entre as atividades que poderão se beneficiar de incentivos específicos para a promoção de tecnologias de baixo carbono.
O estabelecimento de um mercado regulado de carbono no Brasil também criou um ambiente favorável para os projetos de CCUS. Sancionada no fim do ano passado, a lei que criou o sistema de precificação de carbono estabeleceu metas de redução de emissões, permitindo que a captura e o armazenamento de carbono se tornem uma opção viável e atrativa para setores industriais que buscam cumprir as obrigações de mitigação de emissões.
Para que o Brasil possa aproveitar as oportunidades atreladas ao desenvolvimento de CCUS, o estudo recomenda:
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